Mestre Pastinha

MESTRE PASTINHA

“Mestre Pastinha, mestre da capoeira de angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda sua picardia, é um dos seus ilustres, um de seus abás, de seus chefes. É o primeiro em sua arte, senhor da agilidade e da coragem, da lealdade e da convivência fraternal. Em sua escola, no Pelourinho, Mestre Pastinha constrói cultura brasileira, da mais real e da melhor. Toda vez que assisto esse homem, de 75 anos, a jogar capoeira, dançar samba, exibir sua arte com o clã de um adolescente, sinto a invencível força do povo da Bahia, sobrevivendo e construindo apesar da penúria infinita, da miséria, do abandono. Em si mesmo o povo encontra forças e produz sua grandeza. Símbolo e face deste povo é Mestre Pastinha”.
Jorge Amado

Vicente Ferreira Pastinha nasceu em Salvador em 05 de abril de 1889, filho do espanhol José Senor Pastinha e da negra Raimunda dos Santos. Iniciou-se na capoeira aos 10 anos chamado pelo preto Benedito, um escravo alforriado, para aprender a malícia e poder enfrentar um outro menino mais velho e mais forte do que ele que vivia lhe fazendo ameaças. Pastinha começou a freqüentar o canzuá do tio Benedito , e pouco tempo depois sairia considerado pronto pelo mestre e seguiria fortalecendo a fama de imbatível pelas ladeiras da cidade.
Tendo passado por várias profissões inclusive pela Marinha de Guerra, Pastinha sempre sentia o apelo mais forte da capoeira e em 1935, aos 46 anos, fundou sua primeira academia que funcionou por alguns anos num local conhecido na época como Bigode, próximo ao Pelourinho. Em 1941 mudou-se para o casarão nº19, no Pelourinho, criando o “Centro Esportivo Capoeira Angola”. Era lá que o Mestre ensinava capoeira e se apresentava para turistas do mundo inteiro.
Em 1964, lança um livro: ”Capoeira Angola” com orelha de seu amigo Jorge Amado.
Pastinha apresentou-se com seu grupo em vários estados do Brasil e fez parte da delegação brasileira que representou o Brasil no 1º festival de artes negras em Dakar na África realizado em abril de 1966.
Já famoso no Brasil e no exterior, em 1973, aos 84 anos, Pastinha foi despejado de sua academia pela Fundação do Patrimônio, sendo seu espaço transformado em restaurante.
Esta expropriação foi um grande golpe sofrido pelo Mestre. Sua mulher, Maria Romélia Costa Oliveira, a D.Nice, foi quem cuidou de Pastinha até o fim ganhando o sustento do casal com um tabuleiro de acarajés.
Alguns discípulos e amigos também o ajudaram como o escritor Jorge Amado, que conseguiu junto ao então prefeito de Salvador, assegurar uma pensão de 3 salários mínimos para Pastinha.
Patinha sofreu o primeiro derrame em maio de 1978, e o segundo um mês depois. Transferido para o abrigo D.Pedro II, Pastinha morre em 13 de novembro de 1981.


CONSELHOS DO MESTRE


”O capoeirista deve ser calmo, nada de afobação, a tranqüilidade permite que o capoeira se defenda ou ataque com mais sabedoria e malandragem.”


”O capoeirista deve ser leal, tem que respeitar seus colegas e ter uma obediência quase cega às regras da capoeira.”


”Ninguém pode mostrar tudo o que tem. As entregas e revelações tem que ser feitas aos poucos. Isso serve na capoeira, na família, na vida. Há segredos que não podem ser revelados a todas as pessoas. Há momentos que não podem ser divididos.”


”Não se pode esquecer o berimbau. Berimbau é o primitivo mestre. Ensina pelo som. Dá vibração e ginga ao corpo da gente. O conjunto de percussão com o berimbau não é arranjo moderno não, é coisa de princípios. Bom capoeirista além de jogar deve saber tocar berimbau e cantar.”


"Angola, capoeira mãe. Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método, seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista.”


”Capoeira é mandinga, é manha, é malícia, é tudo que a boca come...”


”Pratico a verdadeira capoeira angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos. A lei de angola que herdei de meus avós é a lei da lealdade. A capoeira angola, a que aprendi, não deixei mudar aqui na academia. Os meus discípulos zelam por mim. Os olhos deles agora são os meus.”